Como escolher entre Tesouro prefixado ou IPCA

A queda da taxa Selic, para seu menor nível mínimo histórico, tem motivado brasileiros a saírem de títulos referenciados a esta taxa e migrarem para títulos com remuneração prefixada ou referenciada ao IPCA. Explico abaixo o que precisa avaliar para decidir.

O primeiro ponto a entender é que quando for comparar títulos de renda fixa de remuneração diferente, deve considerar o mesmo emissor. Obviamente, um título público que rende a Selic vai render menos que um título pós-fixado emitido por um banco médio.

Por exemplo, o título Tesouro Selic, devido à taxa de custódia cobrada pela CBLC de 0,25%, deve render próximo de 90% do CDI. Já um CDB de banco médio, pode render mais de 130% do CDI. Essa diferença de rentabilidade ocorre pelo risco de crédito do banco. Para quem investe menos de R$250 mil por emissor, conta com a garantia do FGC. Portanto, para estes casos, o risco é mitigado e o CDB de banco médio é imbatível em relação ao Tesouro Selic.

O mesmo raciocínio se aplica quando compara um CDB de banco médio prefixado ou referenciado ao IPCA e o título do Tesouro de mesma remuneração. Para o mesmo prazo, o CDB provavelmente terá maior rentabilidade

Nosso objetivo é explicar como você pode decidir entre a remuneração prefixada e IPCA. Para isso, usaremos os títulos públicos do Tesouro para a comparação considerando o mesmo risco de crédito.

A decisão entre os títulos não deve considerar apenas o retorno que é apresentado hoje, mas o que deve ocorrer com os movimentos do COPOM e da inflação, nos próximos anos. Entenda, que um título prefixado pode parecer mais vantajoso hoje, mas pode perder para a Selic, dependendo das alterações de taxa de juros que o COPOM deve praticar até o vencimento do título.

Vamos nos restringir, no entanto, à decisão apenas às duas remunerações: IPCA e prefixada. O processo de escolha é simples, mas vai exigir de você fazer uma aposta em relação ao que há implícito nas curvas de juros em cada momento até o vencimento do título. O site da Anbima te ajuda neste cálculo.

A Anbima atualiza, diariamente, a tabela abaixo, disponível no link. Nesta tabela encontrará a taxa equivalente para o Tesouro IPCA e Tesouro prefixado para cada prazo.

Estrutura a termo de taxas de juros (ETTJ) calculada pela Anbima. Taxas equivalentes aos títulos públicos referenciados a IPCA e prefixado para os vários anos de vencimento. Fonte: Anbima

Na última coluna desta tabela, há a taxa de inflação implícita no título prefixado que faz ele ser equivalente ao referenciado ao IPCA, de mesmo vencimento. A deliberação entre IPCA ou prefixado reside em como sua perspectiva diverge desta inflação implícita.

Vamos usar os títulos com vencimento em seis anos (2026) para ilustrar. Se você acredita que a inflação de hoje até seis anos a frente será superior 3,78% ao ano, você deve preferir o título referenciado à inflação. Mas, se você acha que a inflação, nos próximos seis anos, será inferior a 3,78% ao ano, deve preferir o título prefixado.

A rentabilidade do título prefixado é a composição da taxa do Tesouro IPCA e da inflação implícita. Por exemplo, com o título do sexto ano: 6,16% = (1 + 0,022887) * (1 + 0,037849) – 1.

Logo, se acredita que a inflação nos próximos seis anos será de 4% ao ano, se comprar o título referenciado à inflação, vai ganhar 6,38% = (1 + 0,022887) * (1 + 0,04) – 1. Portanto, mais que a remuneração do título prefixado de hoje de 6,16% ao ano.

De outra forma, caso suspeite que a inflação nos próximo seis anos, será de apenas 2% ao ano, melhor comprar o título prefixado hoje de 6,16%. Isso ocorre, pois o título referenciado ao IPCA vai render apenas 4,33% = (1 + 0,022887) * (1 + 0,037849) – 1.

Como vimos, o processo de escolha é simples, mas para se chegar à decisão correta, você precisa ter uma boa previsão sobre a inflação nos próximos anos. Esse é parte do trabalho de economistas que suportam a gestão dos fundos de investimentos.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.