Veja se você também está cometendo este erro
Você já parou para refletir se escolhe seus investimentos da mesma forma que decide sobre seus hábitos de compra?
Neste fim de semana, enquanto estava passando pelos canais, parei no exato momento em que o programa de reformas de residências – Irmãos à Obra – mostrava a escolha de item de decoração por um casal. Percebi logo a relação da forma de decisão deles com um comportamento financeiro comum aos investidores.
Um dos irmãos mostrava alternativas de piso para a residência. Primeiro ele mostrou um tipo de revestimento e deu as seguintes características: o piso é mais barato, possui maior durabilidade, mais rápido para instalar e menor custo de manutenção.
Em seguida, ele mostrou a segunda alternativa e mencionou que aquela era a tradicional. No entanto, era mais cara, com menor durabilidade, maior trabalho para instalar e maior custo de manutenção.
Ainda para tentar trazer o casal para a razão, ele mencionou que a primeira opção possuía as mesmas características térmicas.
O casal segurou as duas alternativas em suas mãos e confirmou que a primeira opção era ótima. Para mim que estava assistindo, a decisão parecia clara. No entanto, me surpreendi com a decisão pela segunda alternativa.
O que você acha que o casal usou como argumento?
O casal falou: “a primeira alternativa é muito boa, mas nós somos conservadores e tradicionais. Portanto, vamos ficar com a segunda opção.”
Assistindo ao programa, talvez você também se surpreendesse, mas será que você também está usando o mesmo argumento nas suas decisões de investimentos?
Somos, constantemente, bombardeados com propagandas de investimentos desfavoráveis que acabam ganhando o estigma de tradicionais e conservadores, simplesmente, porque os conhecemos mais.
Por exemplo, ouvimos tanto falar em caderneta de poupança, que muitos acreditam que ele é o investimento mais seguro e que rende mais. Vários investidores acabam por decidir por ela seguindo o viés financeiro conhecido como viés da familiaridade.
Este foi o mesmo viés que fez o casal decidir pelo segundo piso.
Empresas usam esta estratégia conosco e poucos percebem. Elas fazem isso nos bombardeando com propagandas de seus produtos e marcas.
Ao vermos um produto ou marca por várias vezes, eles se tornam familiares. Quando vamos ao supermercado, acabamos optando pela marca estamos acostumados a ver na TV, mesmo que o preço seja mais caro e que o produto não tenha diferenciação.
Nos convencemos que é a melhor decisão, porém, de fato ela nos é apenas familiar.
Você, naturalmente, já pensou que investir por meio de seu banco é mais seguro, mesmo quando o investimento é no mesmo produto distribuído por outras corretoras. A proximidade, cultivada ao longo de vários anos e o fato de sermos expostos a várias propagandas, causa esta sensação.
Quantas vezes você já decidiu sobre um investimento porque ele parecia familiar? Por exemplo, quantas vezes pensou em comprar as ações da empresa na qual trabalha?
A proximidade por trabalharmos na empresa, nos faz perceber um menor risco em suas ações e costumamos superestimar o potencial de ganho com as ações da empresa na qual trabalhamos.
Racionalmente, ninguém deveria investir ativamente nas ações da empresa na qual trabalha.
Você já investe passivamente nestas ações um percentual relevante de seu patrimônio. Por exemplo, se você ganha R$ 100 mil por ano de salário e as ações da empresa que trabalha pagam uma taxa de dividendos (dividend yield, em inglês) de 3% ao ano, então seu emprego equivale a um comprometimento de mais de R$ 3,3 milhões (=100 mil/ 3%) nas ações desta empresa. Se você ganha bônus por participação nos resultados, então o investimento passivo pode ser ainda maior.
Vários empregados e pensionistas da Enron sentiram esse risco na pele. Quando a empresa quebrou, não só eles perderam seus empregos, como também seus investimentos.
Portanto, o benefício da diversificação nos recomenda não investir nas ações das empresas para a qual trabalhamos.
Um viés relacionado ao da familiaridade é o chamado home bias, ou seja, viés doméstico. Concentramos os investimentos de risco em nosso país.
A grande maioria dos brasileiros que envia recursos para o exterior investe em empresas brasileiras, seja em títulos de renda fixa ou em ações destas.
Somos, erroneamente, levados a acreditar que investimentos no exterior são mais arriscados. De fato, é o contrário. A diversificação internacional, seja em ações e em renda fixa, é a forma mais adequada de melhorar o balanço de retorno e risco de seu portfólio.
Da próxima vez que escolher um investimento, reflita se sua escolha está sendo influenciada pelo efeito da familiaridade. Assim, poderá tomar decisões, racionalmente, mais adequadas.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.