Descubra quais são os riscos em renda fixa atualmente
Com a queda da taxa Selic para 2% ao ano (0,17% ao mês), investidores estão correndo para balancear suas carteiras buscando maiores retornos. A velocidade da queda dos juros surpreendeu muitos investidores e vários ainda não conseguiram adequar seus portfólios à nova realidade de rendimentos. Aponto alguns riscos que você precisa atentar para melhorar a rentabilidade, mas manter a segurança.
No passado, o investidor não precisava fazer nenhum planejamento, pois a remuneração de aplicações com liquidez diária já era suficientemente boa.
A liquidez dos investimentos é a capacidade de transformar os recursos investidos em dinheiro sem sofrer com as condições de mercado. Algumas aplicações que possuem maior carência ou maior prazo de vencimento são premiadas com uma maior taxa de retorno em relação ao CDI. Entretanto, não basta investir em títulos com maior retorno. É preciso avaliar os riscos de movimento da curva de juros e o que o mercado já precifica nesta curva.
Um risco no cenário econômico emerge e o investidor deve considerar de forma mais cuidadosa os efeitos que podem ser produzidos na Selic e na curva de juros.
Nos últimos vinte anos, apenas em um momento tivemos a inflação superando o CDI em quatro meses seguidos como estamos passando agora. Observe na tabela abaixo que, assim como atualmente, o IPCA também esteve maior que o CDI entre novembro de 2012 e fevereiro de 2013.
Uma característica marca os dois momentos. Assim como em 2013, a Selic hoje também se encontra no seu mínimo histórico.
Sem dúvida, o cenário de ociosidade econômica e de desemprego atuais são diferentes daqueles encontrados em 2013. No entanto, a dívida pública líquida como percentual do PIB nunca esteve tão alta como agora.
Talvez você se pergunte, mas e daí? Qual o risco? Afinal, os economistas esperam que a Selic permaneça baixa.
Para decidir as taxas de juros de curto prazo, a taxa Selic, o Banco Central (BC) persegue o regime de metas de inflação. Nesse regime, ele acompanha as expectativas dos agentes. E essa expectativa pode mudar rapidamente se a confiança for abalada.
Em 2013, logo depois de a inflação superar o CDI por quatro meses seguidos o BC iniciou um processo de elevação das taxas de juros como forma de administrar essa expectativa.
Sinais de que a confiança do mercado começa a ser abalada já estão sendo precificados nas taxas de juros. Isso ocorre não só pela elevação das taxas mais longas, mas também no prêmio que investidores estão cobrando acima da taxa Selic.
Nos últimos trinta dias os títulos referenciados à taxa Selic (Tesouro Selic) apresentaram forte queda como pode ser visto no gráfico abaixo. Esta queda impactou os fundos de liquidez e fundos multimercados que compram esses títulos em suas carteiras. Ou seja, manter os investimentos em ativos de liquidez pode não te garantir retorno positivo no curto prazo.
Embora os economistas não prevejam elevação da taxa Selic no curto prazo, os agentes de mercado já precificam na curva de juros a possibilidade de a Selic se elevar já em 2020.
A figura abaixo mostra a taxa de juros prefixada negociada no mercado para cada prazo. A curva verde inferior indica as taxas negociadas no mercado em julho de 2020 e a curva laranja superior as taxas negociadas no mercado na última sexta-feira.
O ambiente de investimento de renda fixa se torna agora ainda mais desafiador, tendo em vista o atual patamar da taxa Selic e do CDI. O aplicador precisa realizar além de um adequado planejamento de sua liquidez e de fluxo de caixa, também ter o entendimento do cenário econômico e da curva de juros de forma a evitar perdas com os movimentos de mercado.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.