Quatro investimentos para seu patrimônio ficar protegido da inflação

A divulgação do IPCA 15, na última quinta-feira, de 0,94% em outubro elevou o receio com relação ao fantasma da inflação. Como escrevi na semana passada, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) superou o CDI por quatro meses consecutivos apenas em 2013. Confirmada as expectativas, será a primeira vez que a inflação vai superar o CDI no ano. Neste cenário, o que fazer para proteger seu patrimônio?

Segundo o boletim semanal Focus do Banco Central desta última segunda-feira, economistas do mercado esperam que o IPCA em 2020 seja de 2,76%. Embora o CDI atual seja de 1,9% ao ano, esta taxa veio caindo ao longo do ano. Assim, a variação do CDI esperada para 2020 é de 2,8% ao ano. Como o último IPCA 15 foi acima do esperado é provável que a inflação supere o CDI em 2020.

Antes de apontar quais são os investimentos para se proteger da inflação, vamos entender o que é o IPCA.

 

O que é o IPCA?

Existem vários índices que se propõem medir a variação dos preços de uma cesta de bens e serviços. Cada um deles é diferente em um aspecto relativo à composição desta cesta.

Por exemplo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também produzido pelo IBGE, mede variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos.

A cesta de bens e serviços que o IPCA abrange é diferente, pois ela é a cesta consumida por famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos. Daí vem o termo Amplo, representado pela letra “A” no fim da sigla. Este índice alcança um espectro mais abrangente.

A diferença entre o IPCA e o IPCA 15 se encontra no período de coleta de preços. Como este último captura os preços do dia 16 do mês anterior até o dia 15 do mês corrente, ele é uma prévia do primeiro que mede o mês completo.

Sua inflação pode ser maior o menor que o IPCA, mas este índice é uma boa medida para a corrosão do poder de compra de seu patrimônio. E a importância de monitorar este índice é prevenir que seus investimentos sejam prejudicados.

 

Entretanto, qual a melhor estratégia para evitar esta perda?

Com medo da inflação, você pode imaginar que a melhor estratégia seria investir todo seu portfólio em produtos referenciados a ela. No entanto, esta não é a melhor estratégia.

É importante manter parte dos recursos em produtos de liquidez referenciados ao CDI e explicarei a razão à frente. Antes, vamos entender que produtos seriam mais adequados neste momento para proteção da inflação.

 

Títulos púbicos

Não é qualquer título público que deve ser comprado neste momento. Você deve adquirir o título Tesouro IPCA (ou NTN-B), pois este rende uma taxa de juros real mais a variação da inflação.

Entretanto, é arriscado investir nos títulos de vencimento longo. A variação destes vai ser muito mais influenciada pelos movimentos de taxa de juros. Se o Banco Central elevar as taxas de juros acima do esperado, os títulos de longo prazo vão sofrer negativamente e você não vai capturar os ganhos da inflação no curto prazo.

Prefira os títulos com vencimento de curto a médio prazo. Estes títulos devem sofrer muito pouco com eventuais aumentos de taxa de juros, favorecendo o ganho de curto prazo da inflação.

 

Títulos privados

Para os títulos privados, você deve seguir a mesma estratégia dos títulos públicos. No entanto, estes possuem uma vantagem adicional.

Os títulos privados possuem um prêmio em relação aos títulos públicos. Esse prêmio pode quase dobrar o juro real, ou seja, os juros acima da inflação que ganha quando comparado aos títulos públicos.

Por exemplo, o Tesouro IPCA 2026 tem taxa de IPCA + 2,9% ao ano. No entanto, deve subtrair desta remuneração a taxa de custódia da CBLC. Assim, o retorno que deve receber, ainda bruto de IR, será de IPCA + 2,65% ao ano. Existem CDBs de mesmo prazo com retorno de IPCA + 4,8% ao ano. Logo, uma taxa de rendimento acima da inflação 80% maior.

 

Fundos de investimentos

Os fundos referenciados ao IPCA cujo prazo médio dos títulos seja até 6 anos também podem ser utilizados.

Procure os fundos que possuem como índice de referência (ou benchmark) o IMA-B 5. A carteira deste índice é composta pelos títulos públicos referenciados ao IPCA com vencimento até 5 anos.

Cuidado para não se confundir com o IMA-B 5+. Este é formado pelos títulos de longo prazo.

O prazo médio dos títulos no IMA-B 5 é de dois anos e meio. Esta é a vantagem dos fundos que perseguem este benchmark. Você investe em uma carteira de títulos e não em um título fixo.

 

Fundos imobiliários

Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs) também podem ser uma boa alternativa para proteção da inflação. Os aluguéis são corrigidos pela inflação. Portanto, os dividendos dos FIIs podem subir.

Eles guardam uma vantagem em relação aos imóveis diretamente, pela diversificação, liquidez, isenção de IR e maior remuneração.

Os FIIs que investem em CRIs são uma alternativa interessante para os que desejam correr menos risco.

 

Lembre-se de manter parte dos recursos em liquidez. Esta é uma boa estratégia para capturar oportunidades com uma eventual alta de taxas de juros mais a frente. Embora não seja esperada uma alta significativa da inflação, tampouco das taxas de juros pelo Banco Central, sempre é bom manter uma reserva para poder aproveitar caso ela ocorra.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.