Por que algumas pessoas conseguem construir um patrimônio financeiro e outras não?
Promessas e sonhos são naturais no início de qualquer ano. Um destes sonhos é o de alcançar a independência financeira. Acumular um patrimônio financeiro capaz de te proporcionar independência financeira é algo simples.
No entanto, a grande maioria das pessoas apenas sonham com ela. Analisando as atitudes daqueles que chegaram lá, é possível observar três aspectos comuns. Discuto abaixo o primeiro deles e o que você deve atentar para que 2021 seja o início desta jornada.
Estes três aspectos comuns podem ser comparados à fundação de uma casa. A fundação, ou alicerce de um imóvel não é aparente. Portanto, quem avalia uma grande residência, não costuma atribuir importância a ele. No entanto, ele é fundamental para a sustentação da casa no longo prazo.
O mesmo ocorre com um patrimônio financeiro. Alguns itens não são facilmente visíveis. Como não vemos a fundação, costumamos atribuir outras razões diferentes desta, quando vemos um milionário. Dizemos que foi sorte ou que foi devido a uma estratégia mirabolante, pois é mais fácil acreditar nisso.
A falta de um alicerce sólido é a razão pela qual a grande maioria dos vencedores de prêmios de loterias perca tudo em alguns anos.
O primeiro aspecto comum se refere ao planejamento. Não importa para onde você vai, com um mapa e um adequado planejamento, você chega mais rápido e de forma mais eficiente. Quando o assunto é investimento, não é diferente.
Planejamento
Você já deve ter ouvido alguém mencionar a importância de se ter um sonho grande. Talvez para alguns aspectos isto funcione. Mas não acredito que seja o caso.
Existe uma grande diferença entre sonho e planejamento. Com investimentos não dá para contar com sonho.
Sonhar pode te levar a esperar que algo maravilhoso ocorra, ou acreditar que vai descobrir uma forma extraordinária de ganhar dinheiro no mercado financeiro. Esta última pode te levar à ruína caso caia em armadilhas, comuns para os que sonham.
Quando se trata de investimentos, o aspecto quantitativo é mais claro e não resta muita margem para sonhos.
O planejamento envolve o estabelecimento de metas factíveis de curto, médio e longo prazo. Neste plano também vai constar o objetivo de retorno e restrições de risco. Também é construída a política de investimento, estabelecendo os produtos e alocação estratégica destes.
Metas intermediárias
A grande maioria foca apenas na meta final, mas os objetivos intermediários são tão ou mais relevantes. O patrimônio necessário para sua independência financeira não é construído no curto prazo.
Vou te colocar um desafio para ilustrar. Imagine que você aplicou os recursos em um portfólio que dobra de valor a cada sete anos. Considere que começou seu investimento com R$ 62,5 mil e que não realize aportes intermediários. Se você deseja ter R$ 1 milhão, depois de quantos anos, terá metade deste valor?
a) 7 anos
b) 14 anos
c) 21 anos
d) 28 anos
e) 35 anos
Uma enormidade de investidores estabelece o objetivo de ter R$ 1 milhão, R$ 10 milhões ou mais. Entretanto, eles esquecem, dentre outros pontos, de estimar quanto tempo levaria para se alcançar a meta final.
Também é comum não se estabelecer metas intermediárias. Estas são relevantes para avaliar se você está no caminho certo para atingir o objetivo final e evitar que se desestimule.
Voltando ao exemplo, depois de sete anos, o investidor teria R$ 125 mil. Após catorze anos, o aplicador estaria com R$ 250 mil. Para quem não fez um plano, neste momento, é natural achar que não vai atingir o objetivo.
Então, estes aplicadores começam a desenvolver metas paralelas que parecem mais factíveis. Por exemplo, compram um automóvel de luxo ou dão entrada em um financiamento de imóvel de veraneio.
No exemplo acima, seriam necessários 21 anos para se juntar R$ 500 mil que é metade da meta.
Se são necessários 21 anos para se chegar à metade do patrimônio desejado, em quanto tempo seu patrimônio cresceria o segundo R$ 500 mil?
a) 7 anos
b) 14 anos
c) 21 anos
Exatamente, em apenas sete anos você já atingiria a meta final. Muitas pessoas podem estar a um passo de atingirem sua meta, mas não se dão conta, pois não possuem um plano.
Quanto mais alto um prédio, mais tempo se leva na construção de sua fundação. A estruturação adequada deste alicerce é fundamental para que o prédio não desabe. O mesmo deve ocorrer com seus investimentos.
Objetivo de retorno
Neste sentido é importante entender bem qual o objetivo de retorno necessário. Esta tarefa é relevante por dois motivos. Primeiro, para entender em qual tempo é factível para alcançar cada uma das metas. Segundo, para estabelecer o risco mínimo e máximo que deve ter na jornada.
Risco
Da mesma forma que um engenheiro calcula na fundação o quanto ela pode suportar de peso, o estabelecimento da faixa de risco do portfólio no plano é importante para que seu patrimônio não caia quando balançar com a volatilidade do mercado.
Prazo das aplicações
Quando não se tem um plano, é comum o investidor ficar mais amedrontado e desejar que todas as aplicações possuam maior liquidez. Como já falei anteriormente, a liquidez custa caro.
Um investidor que tem 80 anos, tem uma expectativa média de vida, segundo o IBGE, de mais dez anos. Se esta é sua idade e se seu portfólio devesse durar não mais que dez anos, cerca de 50% dele poderia estar em aplicações com mais de 5 anos de vencimento.
Ressalto que citei apenas alguns pontos necessários ao planejamento da jornada para sua independência financeira. Para a construção de um grande patrimônio é necessário um sólido plano. Embora alcançar a independência financeira seja simples, não é fácil, pois poucos se dedicam a fazer o que precisa ser feito.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.