A maioria dos investidores investe errado na bolsa; descubra se você erra também

A grande maioria dos investidores investe errado no mercado de ações e aqueles que não investem, muitas vezes não o fazem pela experiência equivocada que conhecidos tiveram. Explico cinco erros dos aplicadores e como tirar o melhor do mercado de ações correndo menos risco.

Quem nunca ouviu história de um amigo ou parente que perdeu alguma fortuna do mercado acionário? Talvez você mesmo tenha uma história para contar. Relatos como estes criam uma ideia errada sobre o risco de investir em bolsa e afastam investidores.

De fato, a razão da experiência negativa no mercado de ações para várias pessoas está na forma errada como o investimento foi realizado. E o primeiro erro é consequência do medo de ficar de fora.

Esse medo é responsável por vários equívocos em investimentos. Ele acaba ocorrendo quando ouvimos vários relatos de pessoas ganhando em um determinado ativo.

Você já pode imaginar sobre o que estou falando. Muitos esperam para entrar no mercado apenas depois de ele ter subido bastante. Neste instante, todas as mídias comunicam os recordes do mercado e vários de seus colegas contam o que ganharam. Diversos investidores com medo de ficar de fora, acabam tomando decisões precipitadas.

 

Momento de entrada

Justamente, no momento em que o investidor deveria ser mais cuidadoso é que ele acaba decidindo pelo investimento. Este momento é quando altas fortes ocorrem no curto prazo.

Este mesmo aplicador acaba fugindo, desesperado nas primeiras quedas, depois de ter entrado na máxima.

O período de cinco anos, encerrado em 2020, foi o melhor desde 2007. Neste intervalo, o mercado subiu uma média de 22,4% ao ano. No entanto, se perdeu-se os seis meses que o mercado subiu mais durante este período, seu retorno teria sido de apenas 6,20% ao ano.

A lição que se pode extrair é que algum investimento em ações deve ser permanente na sua carteira. Ou seja, no seu plano você deve ter uma faixa de exposição máxima e mínima.

Se você escolher o momento para entrar e decidir por aplicar após ver altas do mercado, é possível que tenha perdido a oportunidade.

Assim, entrando depois de altas recentes, ganhos de curto prazo ficam menos prováveis e é sobre este risco que vamos falar a seguir.

 

Prazo

Fiz uma pesquisa no meu perfil no Instagram (@michaelviriato) e o resultado é um reflexo de três falhas que investidores cometem. A primeira destas está relacionada ao prazo de investimento.

Na pesquisa, 80% dos investidores expressaram o medo de perda de principal quando estão investindo em bolsa.

O investimento em bolsa deve ter o horizonte de longo prazo. Acho que todos já ouviram falar sobre isso. No entanto, vários esquecem e, outros confundem, o que significa longo prazo.

Primeiro vamos definir os períodos de investimento. Quando se fala em curto prazo, deve-se considerar um prazo de até dois anos. Entre dois a cinco anos, significa médio prazo. Portanto, a expressão longo prazo considera período superior a cinco anos.

Tente responder a estes três testes.

1) Se o passado se repetir, qual a probabilidade de um investidor ter perda de principal, investindo no Ibovespa, com horizonte de 2 anos?

a) mais de 56%

b) 36%

c) 16%

d) 6%

e) menos de 1%

 

2) Se o passado se repetir, qual a probabilidade de um investidor ter perda de principal, investindo no Ibovespa, com horizonte de 5 anos?

a) mais de 56%

b) 36%

c) 16%

d) 6%

e) menos de 1%

 

3) Se o passado se repetir, qual a probabilidade de um investidor ter perda de principal, investindo no Ibovespa, com horizonte de 10 anos?

a) mais de 56%

b) 36%

c) 16%

d) 6%

e) menos de 1%

 

Você já pode imaginar que se investe com horizonte de longo prazo, a possibilidade de ter perda de principal é significativamente menor que se pensar no curto prazo.

Nos últimos vinte anos, considerando janelas de prazos em todos os dias, é possível verificar que a probabilidade de ter perda financeira, se ficar dez anos, é quase zero. Com prazo de cinco anos, a probabilidade de ter um retorno negativo sobe para 16%. Caso invista em prazo de dois anos, a probabilidade de perda sobe para 36%.

Portanto, se está investindo de forma diversificada, tenha paciência, que a maior probabilidade é que você não terá perdas no longo prazo. No entanto, isto só vale se você realmente está diversificado. É justamente sobre esta falha que discuto abaixo.

 

Diversificação nacional

Muitos investidores cometem a falha de seguir rumores em mídias sociais e comentários de uma ação que vai disparar ou vai reverter a queda, pois caiu demais.

Seguindo comentários, investidores acabam aplicando parte relevante do capital em uma ação que já superou muito seu valor justo. É preciso entender que existe uma grande diferença entre uma empresa boa e uma ação boa para se investir.

Outros, acompanhando gráficos, tentam comprar uma ação quando ela se desvaloriza em determinado percentual. Compreenda que o fato de uma ação ter caído 50% não significa que ela não possa cair mais 50% e mais 50% depois disso. Não é porque um ativo caiu 50% que você não possa perder 50% se entrar após a queda.

Por exemplo, imagine uma ação que tenha cotação de R$100. Se ela cair 50%, seu preço cai para R$50. Neste momento, a ação poderia cair mais 50% e seu preço se desvalorizaria para R$25.

A forma mais adequada em termo de retorno e risco é escolher bons gestores e investir nos fundos destes. Eles contam com equipes especializadas e suas chances são menores de perda. Mas, ainda há uma outra diversificação que reduz ainda mais suas chances de perda.

 

Diversificação internacional

A diversificação internacional traz um benefício significativo para que seu investimento em ações não resulte em perda financeira.

Este benefício ocorre pela descorrelação entre os mercados. Por exemplo, enquanto o mercado de ações brasileiro sofre influências políticas internas e aspectos de nossa economia, outro mercado, como o americano, em nada vai ser impactado por estes ruídos do Brasil.

No exemplo do investimento com prazo de cinco anos, vimos que se você investisse no Ibovespa, teria probabilidade de 16% de ter perda negativa neste período. No entanto, se o investimento tivesse sido realizado metade no Ibovespa e metade na bolsa americana – o S&P500, a probabilidade cairia para menos de 1%.

Esta probabilidade cairia ainda mais se seguir a próxima recomendação.

 

Concentração do investimento no tempo

A probabilidade de perda se reduz, significativamente, se dividir a aplicação em bolsa, realizando-as em intervalos de tempo espaçados ou periodicamente.

Fazendo investimentos de forma frequente, você vai aproveitar os momentos em que o mercado se mostra com melhores chances de sucesso.

Se você seguir estas recomendações, dificilmente, vai pensar que o mercado de ações pode te proporcionar risco de perda de principal.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.