Estas dicas podem evitar que você perca dinheiro em renda fixa

A inflação tem surpreendido investidores e aplicações tradicionais e conservadoras estão rendendo menos da metade do índice oficial de preços, o IPCA. Na busca por maiores ganhos, mas ainda sem elevar o risco em ativos de renda variável, investidores se depararam com riscos que não estavam acostumados a lidar e acabaram tomando decisões erradas. Comento abaixo quais são estes riscos e como obter o máximo potencial da renda fixa neste novo ambiente.

Para ajudar a explicar os riscos e como navegar no cenário atual, entrevistei nesta última quarta-feira Pierre Jadoul, gestor de fundos de renda fixa da ARX Investimentos.

 

Quais os riscos ao se investir em renda fixa?

Conforme descrito por Pierre Jadoul, o investimento em renda fixa se refere à gestão de duas escolhas de fatores de risco: prazo e crédito.

A escolha destes fatores não é trivial e exige tanto análise macroeconômica, para entender o que deve ocorrer com a curva de taxa de juros, quanto análise microeconômica, de cada emissor individual, para ponderar a capacidade de pagamento deste.

É sobre estes dois riscos que abordarei a seguir.

 

É melhor título de curto prazo ou de longo prazo?

Segundo Pierre, muitos investidores têm tomado a decisão errada na escolha do prazo de vencimento dos títulos.

As taxas acima da inflação dos títulos referenciados ao IPCA de vencimento no curto prazo estão mais baixas que no passado. Assim, investidores são incentivados a vender seus títulos curtos e migrarem para os de longo prazo. Os títulos de longo prazo possuem taxas mais elevadas.

O gráfico abaixo ilustra esta diferença de taxas em relação a seus prazos.

Curva de taxas de juros reais de títulos referenciados ao IPCA. Fonte: Anbima

A escolha, erroneamente, parece óbvia. Afinal, você prefere um título que rende IPCA+2,5% ao ano ou um título que rende IPCA+4% ao ano?

No entanto, estamos vivendo um cenário de inflação mais alta que o esperado e que tem ocorrido elevação de prêmio de risco como o que ocorreu com a interferência do Governo em empresas estatais. Neste ambiente, as taxas de juros de longo prazo tendem a sofrer mais. Adicionalmente, os títulos longos alavancam a perda gerada por esta elevação de juros. Portanto, investidores podem ter perdas relevantes se o cenário se deteriorar.

Assim, o mais recomendado é ficar investido em títulos e fundos referenciados ao IPCA de curto prazo, ou seja, com menos de cinco anos de vencimento, recomenda Jadoul.

 

O prêmio de título privado está compensando?

Uma mensagem ficou clara em nossa entrevista. É preciso tomar cuidado com o crédito. Analisar a compra de títulos de crédito privado é mais complexa que muitos imaginam.

O spread de crédito é o prêmio que se ganha por correr o risco de crédito.

Como afirma Pierre, ganhar com crédito parece fácil à primeira vista. Basta baixar a régua de análise de crédito e é possível ganhar mais, mas a conta chega quando o mercado piora.

Enquanto não ocorre problema algum com a empresa, que emite o título ou com o cenário econômico, investir em empresas mais arriscadas pode parecer maravilhoso pelo ganho maior que nas empresas de menor risco.

Ele lembra que, quando o pior ocorre, as perdas em crédito podem ser significativas. Por isso, é necessário uma análise minuciosa e acompanhamento contínuo.

Da mesma forma que na escolha dos títulos curtos e longos, que falamos anteriormente, o mesmo raciocínio vale aqui.

Ver curva de spreads de crédito fornecidas pela Anbima no gráfico abaixo.

Curva de spreads de crédito. O spread de crédito é a taxa de juros adicional que um título de crédito remunera acima de um título público. Fonte: Anbima.

Pode parecer simples aplicar nos títulos mais longos e naqueles com pior classificação de risco de crédito, pois possuem spread de crédito maior.

Pierre alerta que não compensa baixar a régua de crédito se o prêmio não é significativo.

Em um cenário benigno, você pode até ganhar mais investindo em empresas de pior qualidade de crédito. No entanto, se o cenário piorar, as maiores perdas ocorrerão justamente nos títulos mais longos e com pior classificação.

O gestor da ARX também destaca que o prêmio de crédito dos títulos longos não compensa pelo risco, quando considerado o cenário atual.

 

Vale mais aplicar em fundo de crédito privado ou comprar títulos diretos?

Pierre pondera quatro vantagens em  investir em crédito privado, por meio de fundos ativos de renda fixa, em relação a comprar títulos diretos.

A primeira vantagem se relaciona à  capacidade de análise e acompanhamento do risco de crédito de cada emissor. Não basta ver a classificação de risco de crédito fornecida pelas agências de rating na emissão do título.

O trabalho envolve análise passada da empresa, visitas e conversas frequentes com os diretores, analisar as garantias, construir um fluxo de caixa para avaliar a capacidade de pagamento do emissor e simular este fluxo de caixa em diferentes cenários. Adicionalmente, deve-se acompanhar a divulgação de cada resultado da empresa e avaliar se este resultado foi de acordo com o que se esperava.

A segunda vantagem está relacionada aos custos de transação. Os gestores institucionais têm acesso a custos menores de compra e venda dos títulos no mercado secundário. Portanto, tanto o retorno dos títulos adquiridos é maior na aquisição, quanto o preço obtido na venda é mais vantajoso.

O terceiro benefício se relaciona à liquidez e acesso às emissões que o mercado de varejo não acessa. Assim, os gestores estão sempre com melhores escolhas que as pessoas físicas em geral. Pierre destaca que esta é uma assimetria que existe no mercado de renda fixa brasileiro.

A quarta vantagem se relaciona ao acompanhamento macroeconômico para entender os momentos certos de se estar posicionado nos títulos de curto ou de longo prazo.

Logo, quando se investe por meio de bons fundos, você tem uma equipe de especialistas que vai fazer todo este trabalho para você, trazendo maior resultado em relação ao risco corrido.

 

A entrevista pode ser vista na integra no link.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.