Os bancos que se cuidem! Agora você também pode ganhar no que antes só eles podiam

Já é de pleno conhecimento que a rentabilidade dos grandes bancos no mercado de crédito é bastante atrativa. Este ganho é proporcionado principalmente pela falta de competição, tendo em vista a elevada concentração bancária.

O que talvez você não saiba é que alterações regulatórias nos últimos anos têm permitido que pequenas instituições, e até você, se aproveitem deste mercado.

Em 2018, por meio da resolução 4.656/18 e por determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil instituiu a possibilidade de instituições, conhecidas como Fintechs, operarem no modelo conhecido como Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). Este modelo, é mais conhecido pelo seu nome em inglês peer-to-peer lending (P2P).

A partir de então várias instituições surgiram proporcionando alternativas de investimentos com maior rentabilidade e menores custos de crédito para aqueles que precisam. No entanto, ressalta-se que a elevada rentabilidade para os investidores vem também com alto risco.

Fazendo uma analogia, da mesma forma que os aplicativos de transporte permitiram que pessoas tivessem melhores serviços de transporte e pagassem menos, as Fintechs vieram para ocupar este espaço no mercado de crédito e investimento.

Para entender mais sobre as possibilidades de investimentos e riscos envolvidos, conversei esta semana com minha ex-aluna, e agora empresária, Beatriz Antibero e seu sócio Gabriel Nascimento. Eles são os fundadores da Ulend, uma Fintech no segmento de crédito entre pessoas. Abaixo, transcrevo os principais pontos da entrevista.

 

Entrevista com Beatriz Antibero (à direita), Gabriel Nascimento (abaixo) e eu, Michael Viriato (à esquerda).

 

Como surgiu a ideia de montar a empresa?

Eu (Beatriz) e o Gabriel trabalhávamos juntos no Itaú BBA. Nós acompanhávamos diariamente o crescimento do mercado de crédito e a concentração bancária no Brasil. Na maioria dos mercados que possui uma concentração sempre existe um potencial de melhoria e inovação para o cliente, e o mercado de crédito não foi diferente.  Em 2018, veio a regulação das fintechs, que liberou o p2p lending no Brasil. Com o assunto 100% regularizado, entendemos que era o momento para iniciarmos o nosso projeto, começamos no final do ano e fizemos nossa primeira operação em março de 2019.

 

Como funciona o empréstimo direto?

A operação se inicia com a solicitação de crédito da empresa na nossa plataforma. Em seguida é feita uma rigorosa análise de crédito. Se ela for aprovada, é enviada uma proposta de crédito para a empresa de acordo com o seu “score” de crédito. Então, se a empresa concordar com nossa proposta de crédito, elaboramos um relatório sobre a empresa e a disponibilizamos para os investidores da plataforma, para que eles ter acesso ao histórico da empresa e o motivo de seu empréstimo. Com um cadastro simples, o investidor já pode investir. Ele visualiza todas as empresas que estão em captação no momento, acessa e analisa os relatórios de crédito e as condições de cada operação (valor, taxa, o rating, prazo, garantia, entre outros) e seleciona as empresas as quais ele fará seu investimento. Quando todos os investidores fizerem os aportes e aquela captação completar, nós emitimos uma cédula de crédito bancário para cada investidor e a empresa recebe o dinheiro. A partir daí, a companhia passa a ter uma dívida com os investidores, centralizada pela Ulend.

 

Qual o trabalho de uma Fintech, como a Ulend, na intermediação?

O papel da Fintech é de realizar a seleção rigorosa das empresas, fazer a análise de crédito para selecionar aquelas que possuem melhor capacidade de pagamento e condição financeira. Após a seleção das empresas, a Ulend, por exemplo, faz toda a intermediação entre credor e devedor e a formalização do contrato. Por último, mas não menos importante, fazemos toda a gestão do crédito e de suas garantias. Caso a empresa venha a ficar inadimplente, nós fazemos a cobrança em nome do investidor, tanto na esfera extrajudicial como judicial.

 

Qual o rendimento médio do investidor nestas operações?

O rendimento da carteira do investidor vai depender das empresas que cada um escolher para a sua carteira. A carteira total da Ulend, ou seja, todas as operações já realizadas, possui uma rentabilidade bruta de 22% ao ano. Descontada a inadimplência de 5,93% ao ano, o investidor fica com uma rentabilidade de 16,78% ao ano.

 

Qual o prazo de investimento? Há carência?

O prazo do investimento vai depender de cada operação que o investidor selecionar, nossa carteira tem operações de 4 a 30 meses, com recebimentos mensais de rendimento e amortização do principal.

 

Qual o mínimo a se investir nestas operações?

O valor mínimo a investir é de R$ 2 mil por empresa. Indicamos sempre ao investidor que ele diversifique sua carteira e invista inicialmente em pelo menos três operações diferentes. Assim, seu risco é diluído e sua rentabilidade pode aumentar porque não vai depender apenas da performance de uma única empresa.  Aqui também vale a famosa frase: ‘Não coloque todos os ovos na mesma cesta’.

 

A Ulend não é a única Fintech, o que o investidor precisa atentar na escolha dos intermediadores?

O investimento em crédito possui risco. O risco de inadimplência das operações é a possibilidade de não recebimento do empréstimo feito à empresa. Por isso é importante que o investidor conheça como é a atuação da fintech durante a cobrança dos inadimplentes e a seleção deles em relação à qual empresa colocar disponível em sua plataforma. Também é interessante saber se a fintech oferece algum tipo de garantia em relação ao recebimento do investimento feito. Nós, por exemplo, somos a fintech mais reconhecida em relação ao oferecimento de garantias. Buscar conhecer a taxa de inadimplência das plataformas e a maturidade de sua carteira é um bom começo.

 

Se o credor não pagar, o que ocorre com o recurso do investidor?

Se o devedor não pagar, o investidor corre o risco de perda parcial ou total do valor investido. Em uma possível inadimplência, a fazemos toda a cobrança em nome do investidor a fim de recuperar o valor investido e buscar a melhor rentabilidade.

 

Como as fintechs como a Ulend ajudam o desenvolvimento do país?

Em um mercado concentrado e restrito, poucas empresas possuem acesso à crédito e se possuem as condições não são justas e nem saudáveis para o seu negócio. Durante a pandemia nós vimos a corrida que tivemos pelo acesso à crédito e o quanto ele foi e é importante para a sobrevivência das empresas. Nós queremos participar da construção da nova economia, facilitando o acesso ao crédito e disponibilizando mais alternativas de investimento no mercado. Estamos conectando pessoas, gerando mais valor para os dois lados: Investidores ganham mais e os tomadores pagam menos.

 

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor