Se você vai iniciar seu planejamento financeiro, não esqueça disto
Quando se pensa em planejamento financeiro, a maioria dos indivíduos concentra sua atenção nos investimentos e na sua aposentadoria. De fato, a aposentadoria é um dos elementos essenciais. No entanto, não devemos esquecer do bem-estar daqueles que dependem de nós. E este é um dos pontos onde a maioria falha.
O planejamento financeiro deve incluir seis pilares: administração do fluxo de caixa, planejamento e administração de investimentos, planejamento da aposentadoria, análise do perfil tributário, análise e administração de riscos e planejamento da sucessão patrimonial. Embora se costume avaliá-los em separado, eles são dependentes.
Usualmente, nos concentramos nos primeiros pilares e esquecemos os últimos. E é sobre estes últimos que vou comentar, ou seja, sobre um dos elementos do gerenciamento de risco e sucessão patrimonial.
Ao longo da vida, tão importante quanto investir para realizar seus projetos pessoais é acumular recursos para garantir a tranquilidade financeira da sua família.
No entanto, como não conseguimos prever tudo, existe um risco de ocorrer uma fatalidade antes de alcançarmos este objetivo.
Neste caso, temos duas escolhas. Ou assumimos este risco e deixamos para a sorte decidir, ou transferimos este risco para uma entidade que seria uma seguradora.
Trabalhar os conceitos de gerenciamento de risco e sucessão dentro do seu planejamento significa ter uma solução financeira completa para sua família no caso de sua ausência, ou seja, uma garantia com liquidez imediata aos seus herdeiros.
De fato, já estamos acostumados a não contar com a sorte e a realizar transferência de risco. No entanto, ela costuma ser feita apenas quando se trata de nosso automóvel.
Não tenho carro pelos últimos cinco anos, mas lembro que possuía um seguro contra roubo e colisão no passado. Aposto que você também possui este seguro. Mas quando o assunto é sua família, você também pensa em não contar com a sorte, certo?
Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), até 2016 o valor dispendido no Brasil em seguro de automóvel era superior ao de vida (ver figura abaixo). Ou seja, os brasileiros se preocupavam mais com o seguro do próprio carro do que com o bem-estar de sua família. Mas, este comportamento tem mudado nos últimos anos.
O seguro de vida tem papel fundamental na proteção financeira, principalmente, na fase em que você ainda está acumulando recursos.
Este é o período crucial uma vez que um imprevisto nesta fase pode comprometer a situação financeira de toda a família.
Além do papel de gerenciamento de risco, o seguro de vida também pode ser utilizado como ferramenta de sucessão. O seguro do tipo vitalício costuma ser empregado para essa situação. No entanto, vou abordar apenas o caso de gerenciamento do risco de falecimento.
Então como planejar o capital adequado para seu seguro de vida?
Não há uma metodologia única. Um enfoque menos rigoroso determina que você precisaria ter um patrimônio segurado igual ao seu custo mensal até seus filhos deixarem de ser seus dependentes financeiros.
Lembro que seu patrimônio financeiro acumulado, também serve de seguro para sua família. Portanto, o capital necessário para o seguro deve ser reduzido de suas reservas financeiras.
Assim, a medida em que você vai poupando mais, menor será a necessidade de seguro para a segurança de sua família. Ou seja, você pode rever seu seguro ou manter o capital de forma a dar mais conforto aos seus herdeiros.
Imagine que você está com 40 anos, que seus gastos mensais somem R$10 mil e que tenha filhos com dez anos de idade. Considerando que eles serão dependentes por mais 15 anos, você deveria ter um patrimônio segurado de R$ 1,8 milhões (= R$10 mil * 12 * 15).
Entretanto, se você tem R$ 800 mil em aplicações financeiras, deveria fazer um seguro de R$ 1 milhão de capital. A tabela abaixo contém uma simulação para o custo anual por período de 15 anos para um seguro de capital de R$ 1 milhão em caso de falecimento.
Colocando em perspectiva o seguro que estamos mais acostumados em contratar, percebe-se a vantagem relativa do valor do seguro de vida. Compare com o seguro de um carro.
Consultei algumas seguradoras e encontrei que o custo para o seguro anual de um automóvel de valor de mercado de R$ 60 mil é aproximadamente R$ 2 mil. O seguro de um veículo usualmente está entre 3% e 3,5% do valor deste.
Nos exemplos acima, o seguro de vida custa menos de 0,5% do valor segurado. Portanto, perceba que você costuma pagar mais por um bem menos precioso.
A escolha do seguro também é muito importante. Não contrate um seguro no qual as prestações sobem a medida em que você vai ficando mais velho. Também, prefira aqueles em que a avaliação médica é realizada antes da contratação. Considerando estes dois pontos, poderá garantir que você irá conseguir pagar a prestação e que seus filhos receberão o seguro.
Então, analise e escolha bem este item quando for realizar seu planejamento financeiro.
Michael Viriato é assessor financeiro e sócio fundador da Casa do Investidor