Da mesma forma que ele alcançou o topo do Everest, você também pode atingir sua independência financeira

O caminho para atingir metas desafiadoras é muito similar, seja no esporte ou na vida financeira. Aprendi o método para percorrer este caminho com um colega no passado e este conhecimento foi reforçado com outro amigo que superou algo que apenas 30 brasileiros conseguiram.

A entrevista de hoje é sobre o caminho para alcançar o topo do Everest, mas também poderia ser o de atingir sua independência financeira.

Para alcançar o ponto mais alto do mundo, Leonardo Silverio precisou de Foco, Disciplina e Planejamento. O mesmo que você precisa para alcançar sua independência financeira.

Ele definiu seu objetivo, criou um plano para chegar lá com ajuda de profissionais e teve a disciplina de seguir o plano. Este é o mesmo roteiro que todos devem fazer para chegar a seus objetivos, inclusive os financeiros.

Adicionalmente, como descreve na entrevista, Leonardo também manteve o foco mesmo quando eventos o distanciaram de seu objetivo.

Assim como nos investimentos financeiros, muitos procuram atalhos ou desistem, mas como Leonardo explica, a ajuda de profissionais e a paciência de seguir com seu plano fizeram a diferença.

Abaixo transcrevo a entrevista que fiz com Leonardo Silverio, o trigésimo brasileiro a escalar o Everest.

Baixa visibilidade durante a escalada ao cume da Terra. Leonardo Silverio.

Como surgiu a meta de escalar o Everest?

A ideia de escalar o Everest era um sonho distante que, muito embora me fascinasse, não era um pensamento que eu levava muito a sério. Eu nunca havia escalado montanha alguma antes dos 45 anos de idade e o montanhismo era um universo bem longe do meu. Porém, em um dado momento, este sonho de infância começou a se transformar em uma meta e o ingrediente que faltava era, na verdade, muito simples: perceber que escalar o Everest não seria uma tarefa impossível, intangível. Percebi isso, inicialmente, lendo matérias sobre escaladores e vendo que eles não eram super heróis: sua genética era normal, não eram necessariamente mais novos ou mais velhos do que eu e nem vinham de famílias tradicionais de escalada. Eles eram, claramente, pessoas cujo real diferencial se resumia ao seguinte: uma imensa capacidade de foco e determinação. Se você estiver com um bom condicionamento físico, disponibilidade de tempo e condições financeiras, você também pode pensar em escalar a montanha mais alta do mundo. Então, fui conversar com um especialista em Everest e, com ele, desenhamos um plano de treinamento. Olhar para este plano e sentir confiança, percebendo que sua realização dependeria somente de mim, da minha capacidade de foco e disciplina, foi o que de fato transformou aquele sonho em uma meta. A partir daquele momento, ir ao Everest praticamente mudou a minha identidade: eu não era mais uma pessoa com um sonho, eu era agora um cara sendo forjado para ir ao Everest. 

 

Você fez um planejamento para atingir esta meta ou foi simplesmente tentando?

O primeiro passo foi um planejamento detalhado. Ele foi feito juntamente com um profissional, o montanhista Carlos Santalena, que tem o recorde de ser o brasileiro que mais chegou no cume do Everest até hoje. Fui até sua agência e, juntos, traçamos um plano. Eu teria que, primeiramente, fazer um curso de escalada em rocha e fazer um “batismo” em uma montanha no Brasil. Depois, iria à Bolívia fazer um curso de escalada em gelo e escalar uma montanha com neve, que não existe no Brasil. Logo depois, eu teria que escalar no Equador, para ganhar um pouco mais de experiência em alta-montanha. A última etapa seria escalar o Aconcágua, na Argentina, como um teste final. Se tudo desse certo, eu seria considerado “aprovado” para escalar o Everest. Com estas etapas em mãos, pude estimar o tempo que eu teria que dedicar e, principalmente, estimar todos os custos do projeto.  

 

Você buscou ajuda profissional para todo o planejamento ou foi consultando nas mídias sociais?

Eu busquei ajuda profissional. As mídias sociais ajudam, principalmente, pelas histórias e elas podem tanto te desmotivar quanto motivar. Porém, quando a “coisa fica séria”, você tem que conversar com alguém técnico e profissional, alguém que vai primeiro entender quem você é e o que você deseja, antes de te propor algo. O Carlos Santalena, por exemplo, fez perguntas específicas sobre minha experiência prévia, perguntou se eu já havia viajado para algum lugar alto – eu já havia ido a Cuzco, no Peru -, investigou a minha aptidão física – eu havia corrido uma maratona três meses antes da conversa – para que o planejamento fosse otimizado para a minha pessoa. Só quem trabalha na área e tem anos de experiência consegue te dar este nível de ajuda.

Leonardo Silvério comemora a proximidade da meta. Leonardo Silvério.

 

Houve algum momento em que pensou em desistir?

O momento em que eu pensei realmente em desistir foi antes da expedição, quando veio a pandemia do coronavírus e o governo do Nepal cancelou a temporada de 2020. Eu havia programado a minha vida para realizar esta meta em 2020 e, agora, teria que decidir se eu tentaria escalar novamente em 2021. A cotação do dólar havia subido de R$3,90 para acima de R$5,00 em pouquíssimo tempo e eu não havia ainda pago toda a expedição. De qualquer maneira, eu só teria que dar uma resposta a esta questão no final do ano, perto de novembro. Então, eu continuei a minha preparação física, enquanto observava o andamento da pandemia e, durante este tempo, minha motivação teve altos e baixos. Acredito que a minha decisão de tentar novamente o Everest foi ajudada, em muito, por perceber que eu estava, neste ano, muito melhor preparado física e mentalmente do que em 2020. Ficar esperando uma segunda chance me deu a oportunidade de me preparar mais e melhor.

Durante a expedição, houve só um momento em que eu me perguntei “O que estou mesmo fazendo aqui? E se eu desistir agora?” Isso ocorreu no final da expedição, quando foi levantada a hipótese de não existir janela para atacar o cume. Para chegar no cume do Everest, o ideal é que se espere um dia em que as condições climáticas sejam ideais, ou seja, sem tempestade de neve e com ventos abaixo de 20 Km/h. Porém, neste ano, houve dois ciclones na China que afetaram o clima na montanha e, segundo as previsões, não haveria mais janela de tempo na temporada. Eu recebi a notícia como se tivessem jogado um balde de água na minha cabeça. O que me sustentou, mentalmente, foi a lembrança de uma das frases que eu escutei logo que cheguei no Campo Base, no início da expedição: “a maior habilidade que você vai ter que demonstrar aqui é a paciência”. O que aconteceu em seguida foi que, depois de alguns dias esperando a previsão climática melhorar, o que não aconteceu como queríamos, começamos a discutir se haveria um plano-B. No final, resolvemos atacar o cume do Everest no dia em que o clima estava menos pior. Pegaríamos, talvez, ventos de 50Km/h, para compensar, teríamos que aumentar ainda mais nosso foco e cuidado. Foi o que fizemos.

Parecem muitas barracas no acampamento base, mas como na vida, já são poucos os que tentam realmente, e menos ainda conseguem ter a disciplina para seguir o plano até o fim. Leonardo Silvério.

Qual a sensação de atingir sua meta?

Quando cheguei no cume, foi um momento de emoções intensas. Eu estava fisicamente exausto,  porém alegre e com uma sensação imensa de alívio. Era um final bem sucedido de um projeto que deveria ter durado 1 ano mas que durou 2 anos, em que tive que abrir mão de muitas coisas e em que a vida pessoal, profissional e afetiva foram afetadas. Mas lá em cima, no ponto mais alto do planeta, de repente, tudo fez sentido. Acredito que um dos maiores prêmios ao chegar ao cume do Everest é sentir que todo o caminho e esforço anteriores foram validados. Ainda hoje, semanas após ter atingido o cume, sinto as mesmas sensações que senti no cume, quando fecho os olhos e lembro dos últimos passos. Talvez, então, o maior prêmio do Everest seja ter essa história para contar para os outros e para mim mesmo.

Leonardo Silvério tira selfie do topo do mundo. Leonardo Silvério.

 

Qual a próxima meta?

Esta pergunta é interessante. No momento, estou ainda descansando e fazendo minha vida voltar aos eixos, sem pensar em grandes metas de longo prazo. Porém, ao mesmo tempo, perceber que um sonho que tive quando criança se transformou em um plano, um plano que foi bem feito, e que, depois de dar todos os passos e de cumprir todas as etapas planejadas, consegui realizar a meta, fica em mim uma extrema sensação de confiança na minha capacidade de realização. Meu foco, determinação e persistência foram testadas ao extremo e eu passei na prova. Talvez este seja um excesso de confiança, reconheço, e independente disso espero que minha próxima meta seja bem mais simples e mais perto de casa.

 

Várias lições podem ser extraídas deste desafio que Leonardo compartilhou conosco. Sob a ótica dos investimentos, precisamos criar um objetivo, montar um plano para atingi-lo, ter paciência diante das incertezas e resultados abaixo do esperado, manter o foco na meta e ter disciplina para seguir o planejamento.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

Leonardo Silvério no Campo Base no Everest. Leonardo Silvério.