Para o investimento internacional em ações é melhor ter exposição cambial ou fugir dela?
No passado, apenas aqueles que possuíam muitos recursos tinham o privilégio de investir em ativos no exterior. Atualmente, qualquer investidor possui acesso a dezenas de alternativas internacionais com investimento inicial a partir de R$100. Em adição a já difícil seleção dentre as alternativas, surge outra dúvida: vale a pena ter exposição ao dólar nestas aplicações ou é melhor evitar a volatilidade do câmbio?
É inevitável nosso desejo de estarmos sempre certos. Quando o câmbio está caindo, queremos evitar esta variação, mas quando ele está subindo, nos arrependemos de não ter feito toda posição com o efeito cambial.
Nos últimos três meses, vimos o câmbio cair mais de 15%. Com um movimento tão forte e rápido, logo acreditamos que a tendência é de queda.
Com nossa curta memória, esquecemos que movimentos de alta e queda desta mesma magnitude ocorreram por mais de uma vez em pouco mais de um ano. Observe estas oscilações no gráfico abaixo.
Então, como acertar a tendência?
Apesar da célebre frase do ex-ministro Delfim Netto – “O câmbio foi feito para humilhar os economistas” –, existe uma forma de você estar sempre certo e vou explicar abaixo.
Vamos nos deter a análise de alternativas de renda variável, mas vou explicar o motivo desta restrição à frente.
O câmbio influencia o investimento em dois aspectos: no risco e no retorno. Vamos iniciar a discussão pelo efeito do risco.
Investimentos com exposição cambial em dólar elevam o risco da aplicação?
Considerando os retornos do câmbio desde 1999, quando nosso câmbio se tornou flutuante, a volatilidade anual da taxa Reais por Dólar é de quase 23% ao ano.
Seria de se imaginar que um investimento feito com exposição cambial elevasse o risco de qualquer investimento internacional. No entanto, isso não é verdade.
Por exemplo, considerando os retornos desde 1999, um investimento no índice de mercados emergentes MSCI (MSCI-EM) teria volatilidade menor quando realizado com exposição ao dólar.
A diferença é pequena, mas a vantagem se torna maior quando aliada ao retorno agregado do índice e do câmbio. A volatilidade anual do investimento com e sem o efeito do dólar é de 21,2% e 21,5%, respectivamente.
Perceba que mesmo o câmbio sendo mais volátil que o próprio índice, quando os dois estão agregados, o risco conjunto é menor que o risco individual dos dois elementos, ou seja, do câmbio e do MSCI-EM.
Entretanto, este efeito não ocorre com todos os ativos de ações internacionais.
Quando investimos no índice americano de ações (S&P500), o risco não se torna menor. No entanto, quando se considera o segundo efeito do câmbio, a vantagem é evidente.
No longo prazo vale a pena ter exposição ao dólar quando se investe em ações internacionais?
Como disse Delfim Netto, o câmbio é uma variável muito difícil de se prever. Mas esta dificuldade reside em intervalos de curto prazo.
O gráfico abaixo apresenta a evolução do câmbio (linha branca) e do risco país (linha laranja) no último ano. Existe uma razoável correlação entre os dois. Quando risco país sobe, o Real se desvaloriza e vice-versa.
No curto prazo, não é simples afirmar se o risco país vai continuar caindo. No entanto, com o cenário eleitoral se aproximando, é muito provável esperar uma elevação do risco país.
Mas não me proponho a acertar no curto prazo. E sugiro sempre que os investidores reflitam com horizonte de longo prazo. Assim, o que esperar no longo prazo?
Considerando que a inflação brasileira é mais elevada que a americana, é quase certo se esperar que o Real se desvalorize no longo prazo.
O gráfico abaixo mostra desde 1999 a evolução em base 100 do câmbio Real/ Dólar (linha branca) e do IPCA (linha laranja). Apesar da volatilidade do câmbio, constata-se que os dois resultaram no mesmo valor nestas pouco mais de duas décadas.
O investimento no MSCI-EM e no S&P500 quando feitos com efeito do câmbio neste período resultou em retornos muito superior do que sem a variação cambial. A diferença de retorno pode ser observada nos dois gráficos a seguir.
Portanto, no longo prazo, investir em renda variável internacional com o efeito do câmbio melhora consideravelmente a relação retorno por risco do investimento.
Assim, se quiser acertar a direção do câmbio, pare de olhar para o curto prazo. O investimento internacional em ações com efeito cambial deve produzir melhores resultados no longo prazo.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor