A bolsa americana superou seu máximo histórico; descubra se ainda vale investir

Na semana passada expliquei por que investir internacionalmente com exposição cambial é a melhor alternativa. No entanto, vários leitores questionaram se a bolsa americana já não estaria em seus máximos. Portanto, respondo abaixo a dúvida: será que as ações nos EUA já teriam atingido seus máximos? Será que estamos presenciando uma bolha?

Nesta semana, a volatilidade apresentada no mercado de juros de longo prazo, levou vários investidores a recearem que o mercado poderia ter alcançado seu máximo.

O receio foi passageiro e os índices de bolsa já atingiram novas máximas na última sexta-feira. Conforme pode ser visto no gráfico abaixo, o índice S&P 500 se valorizou 45,7% nos últimos dois anos. Portanto, mais que o Ibovespa que se valoriza apenas 19,3% no mesmo período.

Mas será que com toda esta alta, a bolsa americana ainda teria potencial de valorização?

Evolução dos índices S&P500 (linha branca) e Ibovespa (linha amarela) nos últimos dois anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

O valor de qualquer ativo pode ser explicado pela perspectiva de dois fatores: lucros e taxa de juros. No caso dos EUA, estes dois elementos ainda apresentam perspectiva favorável.

Primeiro vou abordar a perspectiva sobre os lucros para as empresas no mercado americano.

No gráfico abaixo é possível ver a evolução dos lucros 12 meses a frente e do índice americano. O índice S&P500 tem seguido a evolução do lucro esperado.

Evolução do índice S&P500 (linha branca) e dos lucros médios (linha amarela) ponderados das empresas que formam o este índice nos últimos 10 anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

O S&P500 já se valorizou 16,3% neste ano de 2021 até a última sexta. No entanto, os lucros projetados de 12 meses a frente subiram mais de 20% desde o início do ano. Portanto, a alta do mercado apenas acompanhou a elevação dos lucros.

Mas será que os lucros das empresas podem crescer mais ainda?

A economia americana tem muito vento a favor para a impulsionar. Além dos gastos do governo programados nos programas de infraestrutura, o consumidor americano nunca esteve com tanta disponibilidade de recursos para gastar.

O gráfico abaixo apresenta a evolução do indicador de poupança dos americanos e do PIB. Este indicador de poupança é medido pela diferença entre a renda dos americanos e seu consumo.

O painel inferior no gráfico abaixo mostra a relação entre a poupança e o PIB. Perceba que este índice subiu a um patamar nunca antes visto no último século.

O painel superior apresenta a evolução do indicador de poupança dos americanos(Personal Savings, linha branca) e do PIB (linha amarela) nos últimos 100 anos. O painel inferior mostra a razão entre os dois índices. Fonte e elaboração: Bloomberg.

O distanciamento social, que reduz diversos gastos de lazer, aliado aos programas de renda promovidos pelo governo fizeram com que o cidadão americano acumulasse recursos como nunca antes.

Com a reabertura econômica boa parte desta poupança deve se transformar em consumo, portanto, impulsionando o crescimento econômico e lucros das empresas.

Atualmente, se espera que os lucros cresçam mais de 10% ao ano até 2024.

Crescimento de receita (barra laranja) e lucros (barra azul) para o S&P500 desde 2017 e esperados pelos analistas para os próximos 4 anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

É muito difícil para analistas estimarem crescimento de lucros tão forte. Daí o fato de os lucros estarem sendo continuamente revisados desde o início do ano e poderem subir mais do que esta estimativa acima.

Com relação às taxas de juros, ao contrário do cenário brasileiro, o Banco Central americano sinaliza que pelo menos até 2023 não deve promover elevação nas taxas de curto prazo. Adicionalmente, as taxas de longo prazo, se mantém em patamar inferior à inflação e menores do que estavam antes do início da pandemia.

As taxas mais baixas favorecem, além da disponibilidade de crédito, seu custo mais baixo para financiamento de investimentos futuros. Também eleva os lucros pelas menores despesas financeiras.

Adicionalmente, as taxas de juros mais baixas incentivam investidores a tomarem risco nos mercados financeiros.

Portanto, na ausência de algum evento extraordinário que interrompa este cenário, o mercado de ações americanos deve continuar atingindo novas máximas nos próximos meses.

No entanto, isto não quer dizer que não ocorram quedas no caminho, como as desvalorizações de 4% que ocorreram no meio dos meses de janeiro, fevereiro e maio deste ano de 2021.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor