Antes de começar a operar com ações saiba responder a estas três questões
Não importa se você já negocia ou apenas pretende negociar ações, existem três questões que em algum momento você vai se deparar. Portanto, o ideal é que já planeje uma solução para cada uma delas antes de as enfrentar.
Apesar do fraco desempenho do Ibovespa, que sobe apenas 2,3% no ano até a última sexta-feira, o número de investidores em ações não para de crescer.
Segundo dados da B3, o número de investidores pessoas físicas cresceu mais de 50% este ano em relação ao ano passado. O total de aplicadores se aproxima de 4 milhões.
Eles são atraídos por uma expectativa de que vão acertar exatamente qual ação vai ter um próximo salto. Alguns até acertam uma destas ações quando compram empresas em suas ofertas iniciais, o chamado IPO. Mas, logo ficam frustrados por não saberem responder às três dúvidas que mencionei.
Esta pode ser a principal razão pela qual aplicadores individuais percam dinheiro com ações ou percam do Ibovespa como mostra o estudo de Bruno Giovannetti da FGV.
Comento abaixo as três questões e por que não saber como responder pode te prejudicar.
O que comprar?
Todos somos atraídos pelo desejo de acertar a próxima ação que vai disparar. Mas construir uma carteira de ações vai além de procurar uma ou outra ação.
Por mais que você tenha feito um excelente investimento no passado. Você em algum momento vai se desfazer dele e trocar.
Ao contrário do que muitos imaginam, não se compra um ativo para carregar por toda a vida. Há momentos em que ou devido ao cenário econômico ou por oscilação de preço, o ativo pode não ser mais vantajoso ficar e você precisa trocar por outro.
A construção de uma carteira exige um processo contínuo de novas ideias de investimentos. Se você não tem um processo de geração de ideias, pode ficar preso a um investimento que eventualmente perde valor ou que tem potencial de valorização menor que o Ibovespa.
Gestores profissionais possuem equipes de analistas internos, além dos externos (das corretoras), que ficam pesquisando, filtrando e trazendo ideias de novos investimentos.
Assim, antes de iniciar, se questione qual processo você vai se utilizar para geração de novas ideias.
Se você não possui um processo, talvez seja melhor delegar seus recursos para quem possui uma estratégia.
Quanto comprar?
Quando o assunto é o quanto comprar de cada ação, existem três tipos básicos de investidores: os colecionadores, os Kamikazes e os estrategistas.
Os colecionadores são aqueles que vão comprando um pouquinho de cada ação. Estes acabam formando uma carteira com cinquenta ou mais ativos. Dificilmente ele sabe o objetivo de retorno ou razão de cada um.
Carteiras como estas na maioria das vezes desempenham pior que o Ibovespa além de trazerem dificuldade adicional de acompanhamento e reinvestimento de dividendos. Pela quantidade de ativos, o investidor dificilmente sabe quanto está rendendo.
O Investidor Kamikaze é aquele que concentra mais de 50% de sua carteira em um ou dois ativos. Quando tudo dá certo, este pode ter resultados mais expressivos. No entanto, dificilmente este resultado se perpetua.
Usualmente, estes investidores tiveram sorte no primeiro investimento e, em seguida, superestimam sua capacidade de escolha e subestimam o risco que enfrentam com a concentração.
Os estrategistas são aqueles que desenvolvem um modelo que orienta a diversificação entre setores e ações de forma a reduzir o risco da carteira e tirar o melhor de cada ativo.
Seja um estrategista. Antes de começar elabore um plano com um conjunto de regras e filtros de diversificação.
Quando vender?
Dificilmente você vai comprar uma ação e vai carregá-la para sempre.
Entenda que quando você ouve histórias de pessoas que ganharam muito quando mantiveram uma ação por uma década, você só ouviu a história exatamente daquela que deu certo. Estas são uma pequena minoria.
O bilionário Warren Buffett, conhecido por manter ativos por longo tempo, frequentemente se desfaz de suas ações. No ano passado, por exemplo, vendeu todas as ações do setor de aviação de sua carteira. Também se desfez de posições do setor financeiro.
Gestores profissionais estão a todo instante revisitando os casos de seus investimentos e reavaliando. Se as condições mudam, uma venda deve ocorrer.
Antes de iniciar qualquer investimento, você deve ter regras de quando deverá vender.
Ao contrário do conhecimento geral, não se vende uma ação apenas quando ela atinge seu potencial. Sua carteira deve ser sempre comparada com alternativas de investimento.
Quando se tem um processo de geração de ideias, a todo instante você está comparando seu investimento com outros. Se surge outro ativo com maior potencial, você deveria trocar ou pode ficar para trás do próprio Ibovespa que também é rebalanceado a cada quatro meses.
A construção e manutenção de uma carteira de investimento deve ser feita com uma estratégia.
Se você não tem uma estratégia definida que responda às três questões acima, reflita em delegar a administração dos recursos a um profissional. Assim, reduz o risco de ter seu portfólio rendendo menos que o Ibovespa.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor