Mercado, economistas e BC divergem sobre inflação. Quem está certo e o que fazer?
Nos momentos de maior volatilidade do mercado, a incerteza sobre a evolução das variáveis econômicas é maior e ocorrem as maiores divergências sobre as expectativas entre os agentes. Nestes instantes, o risco é maior, mas surgem oportunidades. Comento abaixo as divergências que existem sobre as expectativas de inflação e como você deve investir em renda fixa neste cenário.
A meta de inflação do Comitê de Política Monetária (COPOM), medida pelo IPCA, está em 3,75%, 3,5%, 3,25 e 3% ao ano para 2021, 2022, 2023 e 2024, respectivamente. Estes dados representam o centro da meta, mas o Banco Central do Brasil (BC) tem um intervalo de tolerância para esta meta. O intervalo de tolerância é de 1,5% para cima e para baixo.
Caso o BC não consiga cumprir a meta e a inflação fique no ano fora do intervalo de tolerância, o BC deve “divulgar publicamente as razões do descumprimento, por meio de carta aberta ao Ministro da Fazenda, presidente do CMN, contendo descrição detalhada das causas do descumprimento, as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo no qual se espera que as providências produzam efeito”, como descrito em suas normas.
Como pode ser visto no gráfico abaixo, o BC já teve que se desculpar algumas vezes nos últimos anos e deve repetir neste ano.
A média das expectativas dos economistas, representada pela linha vermelha no gráfico acima, indica que a inflação deve ceder e voltar para dentro da faixa de tolerância do BC antes do fim do próximo ano.
Segundo o relatório Focus, divulgado semanalmente pelo BC, a expectativa média dos economistas é que o IPCA seja de 3,98%, 3,25% e 3% em 2022, 2023 e 2024, respectivamente.
No entanto, os investidores não estão tão confiantes quantos os economistas de que o BC conseguirá honrar seu dever.
A expectativa dos investidores de mercado pode ser extraída da diferença entre a taxa dos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA. Essa diferença entre as taxas prefixadas e referenciadas ao IPCA é conhecida como inflação implícita nos títulos públicos.
O gráfico abaixo mostra a inflação implícita para os próximos nove anos.
Perceba que não só os investidores não acreditam que a inflação reverta e ceda para dentro da faixa de tolerância do BC, mas apostam que ela deve se manter elevada e superar 6% ao ano nos próximos anos.
O que isso significa e o que você deve fazer?
Como mencionei, a inflação implícita é extraída da diferença entre as taxas dos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA.
Quando a inflação implícita é muito alta a taxa real de juros fica esmagada entre a taxa prefixada e a inflação implícita. Atualmente, isso ocorre nos títulos referenciados ao IPCA com vencimento acima de 5 anos.
A decisão entre comprar um título prefixado e referenciado ao IPCA deve considerar sua crença para o IPCA em relação a esta inflação implícita.
Se você acredita que o IPCA será maior que esta inflação implícita, você deve preferir o título referenciado ao IPCA.
Caso contrário, se você acredita que o IPCA será menor que esta inflação implícita, você deve preferir o título prefixado.
Assim, atualmente, não compensa investir em títulos referenciados ao IPCA com prazo longo, ou seja, de vencimento superior a cinco anos. Isso ocorre, pois a inflação implícita já está muito elevada.
Se os economistas estiverem certos e o mercado errado, os investidores de títulos prefixados devem rir a toa e os aplicadores de títulos referenciados ao IPCA de vencimento longo podem amargar prejuízo ou terem ganhos magros.
Entretanto, aplicar em títulos prefixados de longo prazo representa um risco devido às incertezas que o cenário eleitoral nos traz.
Portanto, no cenário atual, a melhor alternativa para investir em renda fixa é ter um balanço entre títulos e fundos pós-fixados, referenciados ao IPCA até 5 anos e prefixados até 3 anos. De preferência, se puder manter o título até o vencimento, aproveite os prêmios existentes nos títulos privados.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor