Brasileiros trocam Ibovespa por S&P500; será que este é um bom momento?
O desânimo em relação ao cenário econômico nacional tem incentivado brasileiros a investir nos mercados internacionais. O mercado preferido tem sido o americano dado o desempenho excepcional nos últimos três anos. Comento abaixo o que você deve ponderar antes de tomar esta decisão.
Investir agora no mercado americano é um bom momento?
A resposta a esta questão deve considerar seu horizonte de investimento e o quanto você deseja investir em proporção do seu portfólio.
Vamos iniciar por este último, ou seja, a intensidade do movimento.
Imagine que você faz de uma única vez a compra de supermercado de todo um ano. Concorda que você provavelmente vai perder oportunidades de preço com esta atitude? O mesmo ocorre no mercado de ações. O ideal é comprar aos poucos se este for o desejo.
Portanto, se deseja diversificar em ações americanas, evite realizar o movimento em apenas um único instante.
Esta atitude é ainda mais recomendável quando se considera o nível de preço deste mercado, aqui representado pelo seu principal índice o S&P500.
Assim, comento sobra a questão do horizonte de investimento. Se seu horizonte de investimento é de curto prazo, muito cuidado.
Lembro que no passado, os EUA eram praticamente os únicos líderes do crescimento econômico global. Ou seja, se a economia americana crescia, o mundo seguia crescendo. Caso a economia americana apresentasse frustração no crescimento, o mundo refletia este cenário.
Hoje esta liderança é dividida com a China. Por uma felicidade daqueles que projetam crescimento, a China vive um ciclo econômico adiantado dos EUA.
A figura acima apresenta, trimestralmente desde 2017, a taxa de crescimento do PIB da China (linha branca) e dos EUA (linha laranja). Perceba que a taxa de crescimento da China frustrou expectativas e caiu no segundo trimestre deste ano.
Apostaria que algo similar pode ocorrer com os EUA no quarto trimestre de 2021. Isso poderia levar a uma queda do mercado de ações americano, assim como ocorreu com o índice de ações chinês.
Adicionalmente, as ações americanas negociam com um múltiplo médio preço por lucro, o chamado P/L, bastante elevado.
Não digo que as ações estejam caras, mas para justificar novas altas no curto prazo, não pode haver frustração no crescimento.
Outra questão a se levantar é o movimento de preços de commodities. É reconhecido que quando se passa por momentos de alta destes preços, os países produtores destes itens básicos costumam ser mais beneficiados.
No último ciclo de alta dos preços, entre 2004 e 2008, os mercados emergentes andaram em linha com a alta das commodities.
O gráfico acima apresenta o índice MSCI Mercados Emergentes, que representa a média dos mercados acionários de países emergentes, e o preço do petróleo. Perceba que os dois apresentam desempenho similar.
No entanto, podemos ver no gráfico abaixo que o S&P500 (linha branca) apresentou, no mesmo período, um desempenho mais de cinco vezes menor que os mercados emergentes (linha laranja).
Assim, neste momento, se deseja diversificar sua exposição às ações brasileiras, avalie se expor a outros mercados emergentes.
Por fim, nos últimos 100 anos, foi muito rara a ocorrência de mais de três anos de altas consecutivas do S&P500. O índice sobe 19% este ano, depois de se valorizar 28,9% e 16,3% em 2019 e 2020, respectivamente
Portanto, uma alta forte para o índice americano em 2022, ou seja, superior a 8%, não parece o mais provável.
Entretanto, se seu horizonte é de dez anos, ou seja, de longo prazo, o mercado americano continua sendo uma excelente fonte de diversificação dos investimentos.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor