Você está preparado para ser sócio da família de seu sócio?
Que a pandemia impôs mudanças na vida pessoal de todos não é novidade e já estamos nos adaptando. No meio corporativo, também não foi diferente, mas, não me refiro à eventual queda nas vendas por mudanças de hábitos. Algumas empresas que poderiam não estar sofrendo com vendas, enfrentam outro desafio, a sucessão.
Quando falamos de sucessão, logo pensamos em planejamento financeiro pessoal. Neste caso, um indivíduo planeja a melhor forma de transmitir seus bens aos herdeiros. Existem duas grandes preocupações. A primeira em relação aos custos de transmissão, como os impostos. A segunda com relação a evitar brigas entre os herdeiros que, usualmente, resultam em dilapidação do patrimônio.
No entanto, o objetivo aqui é discutirmos o aspecto da sucessão no meio corporativo. A pandemia, na verdade, despertou nos empresários o sentido de urgência em planejar a sucessão empresarial.
Assim como eu, você provavelmente está se perguntando: mas como a pandemia alterou a visão de urgência no planejamento sucessório corporativo? Afinal, já ocorriam eventos de sucessão empresarial no passado.
Quem me respondeu esta dúvida foi Daian Moura, Head de Seguros da XP Inc, em visita ao nosso escritório nesta última quinta-feira.
Segundo Daian, a pandemia despertou no empresariado a noção de fragilidade de governança na estrutura societária e de como ela pode ser impactante para a continuidade dos negócios.
Antigamente, imaginava-se que se um dos sócios de uma empresa ficasse doente, haveria tempo para se estruturar a sucessão. Ou seja, havia tempo para passar o controle das contas financeiras, negociar com a família a divisão de controle e discutir com clientes e fornecedores a nova estrutura.
Moura, explicou que a pandemia mostrou que os empresários que não estavam com tudo isso já planejado, sofreram, além da perda de um amigo próximo, a burocracia do processo de inventário e discussões com familiares do ex-sócio.
A mesma briga entre herdeiros, que pode arruinar o patrimônio financeiro deixado por uma pessoa, também pode prejudicar o futuro da empresa. Segundo ele, algumas companhias não resistiram por simplesmente não conseguirem acesso ao caixa da empresa para manterem a continuidade do negócio.
Como o seguro de sucessão corporativa pode salvar a continuidade dos negócios de sua empresa?
Quando um dos sócios vem a falecer, os outros deveriam estar preparados para comprar a participação deste imediatamente, fugindo assim das agruras do processo de inventário. Para isso, os sócios deveriam manter sempre em liquidez imediata o valor para aquisição das ações dos outros sócios e essa troca de controle deve estar prevista no acordo de acionistas da empresa.
Entretanto, como questionou o executivo da XP, Maurício Honorato, qual empresário mantém em aplicações de liquidez um valor suficiente para comprar a participação dos outros sócios?
Para evitar os problemas em troca de controle repentinas como estas, Moura sugere que toda empresa que se preocupa com sua governança deveria ter um seguro de sucessão corporativa e ter um acordo de acionistas que estabeleça este seguro como ferramenta de troca de controle. Lembro que governança forma uma das letras da sigla ESG que é tão falada atualmente.
Recentemente expliquei que o seguro de vida é uma das mais eficientes ferramentas para planejamento sucessório de pessoas físicas.
Costumo dizer que indivíduos devem planejar suas finanças como as empresas fazem as delas. Agora posso dizer que também os empresários têm a aprender com as pessoas físicas no que diz respeito ao planejamento financeiro, pelo menos, quando se fala em sucessão.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor