Qual o valor justo para o Bitcoin?
Depois de uma alta de mais de 49% no mês passado e de 571% em 2017 até o final de outubro, o Bitcoin sobe mais 17% apenas nos primeiros quatro dias de novembro e continua surpreendendo a todos. Essa forte valorização tem impulsionado especialistas a realizar previsões sobre seu valor no futuro. Entretanto, a capacidade de se realizar essas previsões é criticada por pesquisadores devido à característica desse instrumento financeiro.
Em entrevista recente para os canais CNBC e Business Insider, o especialista Tom Lee, fundador da FundStrat Global Advisor, estabelece duas formas para avaliar a moeda. Em uma delas, ele compara Bitcoin a ouro e diz que em dois a cinco anos a moeda digital deveria atingir US$25mil. Isso significaria uma alta de mais de 240% do valor negociado nesse sábado de US$7,3 mil por Bitcoin. A abordagem de relacionar o Bitcoin a commodities é seguida por vários peritos, que a justificam pelo fato de a criação de uma moeda demandar elevado consumo computacional e de energia.
Lee também faz uso da técnica criada por Robert Metcalf na década de 1980 para avaliar redes de telecomunicação. Essa técnica foi empregada com êxito em 2015 por pesquisadores para avaliar redes de relacionamento como o Facebook e a análoga chinesa Tencent. Segundo Lee, 94% da variação de preço do Bitcoin é explicada por esse método.
A conhecida lei de Metcalf diz que o valor de uma rede é proporcional a n^2, com n representando o número de usuários. O argumento é o de que a medida que cresce o número de usuários, a utilização e negociação cresce exponencialmente, impulsionando seu valor. Como a oferta da moeda é escassa, seu preço subiria seguindo essa proporção com o número de usuários. Entretanto, será que a lei de Metcalf serviria para prever o valor do Bitcoin ou apenas para justificar seu preço no momento? Adicionalmente, é adequado classificar Bitcoin como uma commodity?
Moeda x Commodity
Segundo o professor da Universidade de Nova Iorque e especialista em avaliação de ativos, Aswath Damodaran, não é possível prever o valor do Bitcoin, pois ele é apenas uma moeda. Conforme o professor, apenas para ativos geradores de fluxos de caixa e commodities é possível atribuir um valor justo.
O economista sênior do Banco Central de Chicago – François Velde – em seu artigo “Bitcoin: A primer” concorda que seria um erro dizer que Bitcoin é uma commodity, mas que ele é uma moeda fiduciária cujo preço dependeria da crença em sua aceitação futura como moeda de troca. No entanto, sua aceitação como meio de troca ainda é muito incipiente e a alta volatilidade dos preços dessa moeda virtual afugenta a utilização como meio de pagamento. Uma empresa que aceita Bitcoin corre o risco de perder toda sua margem de lucro em poucos minutos devido ao forte movimento de preços.
Investimento x Trading (Valor x Preço)
A premissa de que Bitcoin é uma moeda e não um ativo gerador de fluxo de caixa leva a uma outra conclusão por Damodaran: não se investe em Bitcoin, mas apenas se negocia. Concordo com a visão dele de que o que faz um bom investidor é sua habilidade em avaliar um ativo e encontrar seu valor justo, e sua paciência em esperar que o preço deste convirja para o valor encontrado.
Como não é possível calcular um valor justo para o Bitcoin, para se ganhar dinheiro com ele, você precisa ser um bom trader (negociador). Um bom trader é aquele que tem a capacidade de reconhecer os padrões de movimento dos preços e identificar tendências. Logo, se você é capaz de reconhecer que o preço do Bitcoin vai seguir a trajetória ascendente e consegue acompanhar o mercado para rapidamente vender com a reversão do movimento, aproveite para entrar nesse mercado, mas atente para o alto risco desse instrumento.
Apesar do debate sobre o futuro do Bitcoin estar longe de ser uma unanimidade, o grande interesse em moedas digitais indica um futuro promissor, talvez não para o Bitcoin, mas para a tecnologia que o suporta (Blockchain). Uma evidência disso é que em relatório divulgado no mês de setembro, o Bank for International Settlements (BIS) reserva uma seção inteira para discutir a criação de moedas digitais pelos países.