Que importante lição o mês de setembro ensina
No século 21, o mês de setembro é temido por marcar o início das duas maiores crises que abalaram o mundo e o mercado financeiro. Em setembro de 2001 e de 2008, ocorreram o atentado terrorista nas torres gêmeas e a quebra do banco Lehman Brothers, respectivamente.
O índice Ibovespa se desvalorizou quase 19% no primeiro evento e 12% no segundo.
A tabela abaixo mostra o retorno acumulado do Ibovespa em cada mês nos últimos vinte anos. Setembro é o mês que apresenta o terceiro pior desempenho. Quem investiu no Ibovespa apenas durante este mês nos últimos vinte anos, acumulou perda de 15%.
Ser o terceiro pior mês parece não ser assustador, mas há um dado mais surpreendente. Nos últimos 240 meses, o Ibovespa caiu mais de 8% em trinta meses. Destes, o mês de setembro se destaca, representando 20% do total de meses.
O efeito destes poucos meses ruins são avassaladores na performance de um investidor. O Ibovespa se valorizou 1.085% nas últimas duas décadas. Se durante esse período, um investidor estivesse fora do mercado apenas nestes seis piores meses de setembro, a rentabilidade seria de 2.288%. Portanto, um investidor obteria mais que o dobro de retorno, se não estivesse investindo em ações apenas nestes seis meses.
Estas perdas guardam uma importante lição para os investidores.
Apesar de desastres financeiros não serem frequentes, quedas de mais de 3%, como a que ocorreu neste último mês de agosto, ocorrem mais do que se imagina. Desde 1998, quase um em cada três meses apresentou uma desvalorização dessa magnitude.
A tabela abaixo apresenta qual rentabilidade mensal sua carteira teria, assumindo uma proporção investida em ativos que rendem o CDI (0,52% ao mês) e o complemento em Ibovespa. Nesta simulação, assumimos que este último índice caia 3% no mês. Uma participação de apenas 15% em ações já seria suficiente para que todo seu portfólio tivesse retorno nulo no mês. E apenas 5% em bolsa já é capaz de fazer com que sua rentabilidade seja de apenas 66% do CDI.
Portanto, se não suporta ver seu investimento ter rentabilidade zero ou sofrer qualquer queda, deve analisar com cuidado a proporção do portfólio a ser investido ou mantido no mercado de ações.
O simples fato de a taxa de juros estar baixa, não deve ser motivo para arriscar seu capital. Os investimentos devem estar alinhados com o perfil do investidor e com seu plano de investimento.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.