Conheça a estratégia que rendeu mais de três vezes o CDI

Por mais de duas décadas o investimento em bolsa de valores no Brasil não tem sido vantajoso. Entretanto uma estratégia, internacionalmente reconhecida e academicamente testada, é capaz de virar este resultado. E o momento para executá-la é agora.

Quem investiu R$10.000 no Ibovespa, ao final de outubro de 1997, teria R$97.290 em 30/10/2018. No mesmo período o investimento em um produto que rendesse a taxa DI, conhecido como CDI, alcançou o valor de R$179.786. Portanto, o Ibovespa se valorizou apenas 54% do CDI.

Não obstante, uma estratégia simples apresentou resultado mais de três vezes superior ao CDI e mais de seis vezes o investimento no Ibovespa, conforme apresentado na figura abaixo. Ela funcionou inclusive nos piores momentos de se investir em bolsa.

Evolução do investimento de R$10.000 entre outubro de 1997 e 2018 em três investimentos: Ibovespa, CDI e estratégia descrita abaixo. Fonte: Quantum Axis, elaboração Michael Viriato

Entre 2010 e 2015 o investimento no Ibovespa provocou uma perda de 40% no patrimônio do investidor.

No entanto, a tática que explico ao final do texto apresentou valorização de 20%. Portanto, resultou no dobro do patrimônio de quem apenas investiu na bolsa em todo o período.

O mais interessante é que esta estratégia é de fácil implementação. Já a abordei no passado, porém incluo aqui novos resultados e explico como melhor aplicar.

Esta metodologia se utiliza de uma anomalia chamada efeito Halloween (dia das bruxas) em referência à data de corte na qual deve realizar um dos rebalanceamentos da carteira. Ela também é chamada de sell in may and go away” (venda em maio e fuja).

Os pesquisadores Jacobsen e Zang revisaram seu estudo sobre este modelo há uma semana, no dia 25/10/2018, e o publicaram no Social Science Research Network.

Segundo a pesquisa realizada em mais de 100 mercados de ações e 63 mil meses, os retornos no período de novembro a abril tendem a ser maiores que aqueles observados no período de maio a outubro.

Uma hipótese para explicar esse efeito é que os investidores estariam, frequentemente, muito otimistas sobre o ano seguinte, desde o final do ano anterior até o início do ano.

O excesso de otimismo levaria o mercado a apresentar maiores retornos no período de novembro a abril. Entretanto, ao chegar em maio, a realidade faria com que os preços dos ativos tivessem que ser corrigidos em razão do otimismo exacerbado.

A tabela abaixo apresenta os retornos médios em cada mês desde dezembro de 1997.

Retorno médio em cada mês entre outubro de 1997 e 2018. Fonte: Quantum Axis

Analisando os resultados, verifica-se, claramente, que os seis meses meses iniciados em novembro e terminados em abril têm resultados positivos e quase sempre superiores aos outros.

Isto fica mais evidente quando agrupamos, como mostrado na tabela a seguir.

Retorno médio anual nos dois períodos que separam o efeito Halloween (novembro a abril e maio a outubro) entre outubro de 1997 e 2018. Fonte: Quantum Axis

O semestre iniciado em novembro tem resultado médio positivo e elevado, enquanto aquele iniciado em maio tem retorno médio negativo.

Portanto, no longo prazo, a estratégia de comprar ações entre os meses de novembro a abril e vender de maio a outubro se mostra lucrativa.

Interessante notar que se calcularmos o número de meses positivos e negativos em ambos os períodos, observa-se que eles são similares, conforme tabela a seguir.

Número de meses com retorno positivo e negativo nos dois períodos que separam o efeito Halloween (novembro a abril e maio a outubro) entre outubro de 1997 e 2018. Fonte: Quantum Axis

Portanto, depreende-se que o efeito Halloween ocorre mais pela intensidade dos retornos positivos no semestre iniciado em novembro do que pela quantidade de meses positivos.

Como montar a estratégia

Para se aproveitar melhor do efeito Halloween, o ideal é balancear os investimentos em bolsa e renda fixa com alternativas que resultem em menor incidência de IR.

Neste caso, o investimento em bolsa pode ser feito por meio de fundos de ações ou ETFs (Exchange Traded Fund, ou Fundo Negociado em Bolsa). Ambos possuem IR de 15% ao ano sobre os rendimentos. Selecionando um bom gestor é possível obter retornos ainda superiores ao dos ETFs.

Para a parcela de renda fixa, não há ETF baseado em CDI. Há alternativas sem IR como LCIs (Letra de Crédito Imobiliário) de seis meses e fundos de crédito privado de debêntures incentivadas. Estes últimos, por terem um pouco mais de risco, apresentam melhor rentabilidade.

A estratégia que é apresentada no gráfico acima e que resultou em retorno mais de três vezes superior ao CDI é a de investir em bolsa entre os meses de novembro a abril e de investir em um produto que rende 100% do CDI entre maio e outubro.

Lembro que esse comportamento do Ibovespa (efeito Halloween) não vai ocorrer em todos os anos e envolve o investimento em ativos de risco. Logo, antes de implementar, é importante avaliar se a estratégia está alinhada ao perfil de investidor.

 

Referência:
Jacobsen B. and Zhang C., “The Halloween Indicator, ‘Sell in May and Go Away’: Everywhere and All the Time”, Social Science Research Network, Outubro 2018

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.